terça-feira, janeiro 12, 2010

Uma noite qualquer de um janeiro qualquer

Pernas pro ar naquela mesma sala de antes de mim.
O ventilador fazia a trilha da noite, dizendo todos aqueles ruídos comuns a um ventilador daquele tipo e se sobrepondo ao som da conversa que nem existia. O calor entrava pela janela, invadia nossa roupa e escorria pescoço abaixo.
A respiração lenta, lenta. Só pra não ter que botar pra dentro todo aquele ar quente.
Ela estava ali, de frente pra mim, naquele também mesmo sofá, testa franzida. Nos olhos, a mesma preocupação que eu observei em mim.
Falei qualquer coisa idiota capaz de dissipar aquele olhar no nosso ambiente.
Ganhei de volta um sorriso seco, rápido, triste e frio, tão frio que eu ri, de pensar em como toda aquela quentura podia deixar que um sorriso tão frio furasse a atmosfera tão janeirense ao nosso redor.
E percebi; Do jeito como a quero confortável, ela me quer confortável, apesar daquilo não estar funcionando pra nenhuma de nós duas.
Eu não podia parar, precisava continuar falando. E disse mesmo. Disse tudo o que eu sabia dizer sobre a coisa que melhor sei. Sonhos. Com algum esforço, enchi os olhos daquela substância incrível que os faz brilhar e olhando-a nos olhos a deixei saber de tudo quanto eu pretendia pra nós.
De como eu nos tiraria daquele lugar, de tudo que faríamos no outro lugar ainda sem nome pra onde eu nos levaria e de quão fantástica seria nossas vidas.
Após o esforço do parto difícil dessa história que ameaçava de fato nem ser, larguei os ombros pra caírem no sofá, visivelmente cansada.
Quando retomei o olhar, ela me sorriu. Dessa vez um riso real, que de tão palpável, terno. Foi com a respiração ainda ofegante que sorri de volta, sabendo que por hora, aquilo era tudo que precisávamos para sobreviver até o próximo dia.
O tão esperado dia seguinte. Que talvez não fosse tão quente. Que talvez, não fosse tão seco ou triste.

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