segunda-feira, julho 26, 2010

Meu blog se trata muito mais de colocar pra fora o que já não cabe mais na alma do que de estar pensando em quantas pessoas vão ler ou deixar de ler o que se escreve aqui.
Vê, é simplesmente inesperado que haja qualquer tipo de reação. Como a tua. Não há o que esperar, só dizer.
E daí?

obs: Não acredito que alguém seja tão bobo a ponto de escrever para ninguém ler. O que se escreve, é para ser lido, o que não é pra ser lido, fica aqui, guardadinho nas nossas lembranças.
Não se diz o que não se quer que ninguém saiba!

=]
Você gosta das verduras frescas. Eu não como verduras. Eu sei e você sabe, mas no final do dia, quando ponho devagar as mãos sobre a fechadura, com leveza e paciência pois me sobram apenas leveza e paciência após esses cinqüenta anos, você estica o pescoço, já num gesto mecânico, de quem nem pensa em fazer, só faz, pra ver que fez, e me olha.
Me olha pra sorrir. E aí sorri.
Você diz: Estou preparando rúcula.
Eu posso assentir, ainda que, como eu disse. Você sabe e eu sei.
Ou, posso ignorar, pra depois subir lentamente os degraus até aquele espaço pequeno que era tão nosso. Vai depender de como foi o dia. Lá dentro, tudo que sempre foi, do jeito como sempre foi. E não importa que as cores não sejam as mesmas e que você não mais as consiga ver, por que eu já cheguei. E depois de tanto tempo, chegar já é o suficiente.
Nós não temos mais espelhos na casa. Foi assim que combinamos. Eu sou só o que você vê, e você é tudo que eu vejo. Basta isso. Só isso. E eu comeria rúcula pelo resto dos meus dias.



Por onde perdi?
A pergunta me segue, mas já não me recordo o que perdi, se perdi, ou a caminho de quê.
O que é?
Essa coisa que espeta, incomoda, entra fundo na alma, só pra me derramar fora. Mas eu não quero ir. Eu quero mais é ficar. Me deixem com as minhas coisinhas. Em paz. Em desespero. Desde que fique, desde que seja, desde que sou.
Só quero roer esse osso que resta, de tudo que era pra ter sido, agonizar em silêncio. Levantar e sorrir.
Tão criança, gargalhar. Tão, mas tão.
Colo. Isso... pegue, pegue no colo. Shhhh...Shhh... Não importa, é um bebê.
Bebê? Pára, não é isso que é.
Drama. Você diz drama e nada parece mais ser. Me aquieto. Escondo os olhos. Criatura acuada, quando reparo já estou. Arranho a parede. Arranco fora e guardo no armário. Se pensas isso, como posso lhe deixar ver?
E roda roda roda. Néctar escorrendo pelo corpo. Continua rodando. É pra cima que olha. Não há buraco. Só espelho. Mas espelho também é buraco e de repente, podia ser, podia ser. A idéia se acende. Apaga. Desiste. Se esconde no piso. Derrete. Não existe mais, não existe, não existe. Acredita, e porquê acredita, some.
Gosta. Sente o gosto vivo do poder de si que tem.
A rainha de todos eles.
“Uma ode a mim”. Brindo o cigarro.
Dorme e acorda assim.
É sina, maldição, destino.
Eu rio do destino porque a maldição e a sina me parecem tão mais ainda que eu.
E não são, não são.
Só eu, só. Só. Só.
E parar pra no meio do caminho pontuar os pontos. E não quero mais pontos, nem nada.
Os pontos soam tão. Não, nada de pontos. Sacudo os pontos do colo. Quem é que precisa disso afinal? O fim não é o que parece. Nada termina como deve começar. Essas coisas sempre juntas pelo final das outras...
O meio. Me restrinjo ao meio. O meio é a melhor parte. No meio o olho brilha. O meio é como redenção. Ah, sim. Isso sim. E em seguida constatar: Meu Deus. Me roubaram o meio. E pimba, lá se foi a luz. Lá se foi o ar.
Estava ali, onde foi parar? Rodo, rodo, rodo. Já não posso parar. Não há meio que me satisfaça. Respire, respire. O duplo osso da vida é função. Quando se chega, vai-se.
O que é? O que é? Essa coisa que espeta, incomoda, entra fundo na alma, só pra me derramar fora.

quinta-feira, julho 15, 2010

- Mas eu não compreendo...O que estão eles a fazer?
Todos esses lugares, bocas se estreitando para depois se alargar, alardeando um som alto e estridente...E porque não posso falar com você? Preciso entender! Me assusta... Mas ao mesmo tempo é como uma pequena hesitação inflada de curiosidade. Ela se move e você, extasiado pela beleza, se aproxima, apesar de não entender se há perigo ou não naquela pequenina criatura colorida. É assim. Não consigo explicar. Esse espaço que há, boca, e que se estreita e alarga, num movimento contínuo e sonoro...é como....é como um convite....
- Isso é o que chamamos de sorriso...
-So....rri...zzzzzo.
-é...haha, sorriso. Você é engraçado, sabe?
-Engraçado, eu sou engraçado...espera! (com alguma dificuldade, estreita os lábios para depois alargá-los ao máximo, no que agora sabia chamar-se sorriso.) Em seguida, emite o som mais esquisito que pode. fecha-se. acabou. Olha para o outro.

- o que você acha?
- Bem, é preciso treinar essa coisa.
- O que é coisa?

-Nesse caso? Bem, nesse caso a coisa é felicidade. Não é tão fácil assim parecer genuinamente feliz.

- Ah...é como um jogo? Você parece uma coisa...que não é? Há um jeito certo para ..para...so...rrrriiii...zzzzzo?

- Na verdade...........Você me confunde, sabia? Escuta, você precisava mesmo cair aqui, bem aqui, no meu limite? Nessa mínima circunferência, formato de mamão, com alguns galos da infância e muita confusão? Eu não posso te ajudar. Já lhe disse, é preciso que se entenda que não é tudo feito pra ser entendido. Apenas se faz, e ponto. É perigoso não fazer. Você não entende. Existem regras. Não se pode subjulgá-los. São todos loucos.

Os olhos brilhavam enquanto escondia rapidamente todas as borboleta armário adentro. Das paredes arrancava a cor, embrulhava em minúsculas bolinhas de tinta que escondia sob a língua e aqueles fios, tão interessantes, os fios...uma pena! Uma pena! que libertavam barulhos poderosos que acalmavam e fervilhavam o estômago foram postos atrás das paredes.

- Porque tudo isso? O que está acontecendo?

- Olha, é a última vez que lhe peço essa semana. Já faz alguns anos que lhe sei aí. Você não pode mais ficar. Por favor, não more em mim. Por favor, eu lhe imploro. Leve o tempo que quiser, mas vá. E o mais importante: Não fale comigo. Custe o que custar, quando eu sair por esta porta, não me obrigue a respondê-lo. Você não...entende.

Eu ouço a porta. Eu vejo a porta. Eu sou um. Sei que sou. Não...Eu não estou. Eu sou. Vocês não são. O que são? Não sei. Mas espera, já disse que sei. O que sou. Não, o que são, não. Vocês me confundem. Tudo me confunde agora. Porta? Que porta? Já não lhe disse que só ouço a porta. Você sabe que finjo ver...Não é justo. Você sempre SOUBE! Tudo bem, me desculpe. Não falo mais assim, é certo. Olhe, eu confesso, eu não vejo. e aliás, eu não sou. Eu sou só esse esboço. E se você quiser verdade, lhe digo. É simples..
Eu sou...o que...você...é.

-Pare! Já lhe disse. Não me importa. E não ouse responder-me!

É possível que passassem alguns dias sem falar-se.
mas era afinal irremediável. Aquele parasita não iria a lugar algum. Ele nascera ali e ali, morreria. Bem ali, na mínima circunferência. No limite. No formato de mamão. E um dia, talvez aprendesse a usá-lo. Porquê não?
E eu fico aqui, com este tipo chato de amargura atada ao redor dos pés e mãos, a observar como as pessoas vão e voltam sem que eu sequer me mova.
E observo, observo. Já não há reação. Só um vazio no olhar vazio que desde o sempre - que nasceu agora - mora aqui, neste recôndito espaço, não menos vazio mas cada vez mais estreito e escuro.