quinta-feira, julho 15, 2010

- Mas eu não compreendo...O que estão eles a fazer?
Todos esses lugares, bocas se estreitando para depois se alargar, alardeando um som alto e estridente...E porque não posso falar com você? Preciso entender! Me assusta... Mas ao mesmo tempo é como uma pequena hesitação inflada de curiosidade. Ela se move e você, extasiado pela beleza, se aproxima, apesar de não entender se há perigo ou não naquela pequenina criatura colorida. É assim. Não consigo explicar. Esse espaço que há, boca, e que se estreita e alarga, num movimento contínuo e sonoro...é como....é como um convite....
- Isso é o que chamamos de sorriso...
-So....rri...zzzzzo.
-é...haha, sorriso. Você é engraçado, sabe?
-Engraçado, eu sou engraçado...espera! (com alguma dificuldade, estreita os lábios para depois alargá-los ao máximo, no que agora sabia chamar-se sorriso.) Em seguida, emite o som mais esquisito que pode. fecha-se. acabou. Olha para o outro.

- o que você acha?
- Bem, é preciso treinar essa coisa.
- O que é coisa?

-Nesse caso? Bem, nesse caso a coisa é felicidade. Não é tão fácil assim parecer genuinamente feliz.

- Ah...é como um jogo? Você parece uma coisa...que não é? Há um jeito certo para ..para...so...rrrriiii...zzzzzo?

- Na verdade...........Você me confunde, sabia? Escuta, você precisava mesmo cair aqui, bem aqui, no meu limite? Nessa mínima circunferência, formato de mamão, com alguns galos da infância e muita confusão? Eu não posso te ajudar. Já lhe disse, é preciso que se entenda que não é tudo feito pra ser entendido. Apenas se faz, e ponto. É perigoso não fazer. Você não entende. Existem regras. Não se pode subjulgá-los. São todos loucos.

Os olhos brilhavam enquanto escondia rapidamente todas as borboleta armário adentro. Das paredes arrancava a cor, embrulhava em minúsculas bolinhas de tinta que escondia sob a língua e aqueles fios, tão interessantes, os fios...uma pena! Uma pena! que libertavam barulhos poderosos que acalmavam e fervilhavam o estômago foram postos atrás das paredes.

- Porque tudo isso? O que está acontecendo?

- Olha, é a última vez que lhe peço essa semana. Já faz alguns anos que lhe sei aí. Você não pode mais ficar. Por favor, não more em mim. Por favor, eu lhe imploro. Leve o tempo que quiser, mas vá. E o mais importante: Não fale comigo. Custe o que custar, quando eu sair por esta porta, não me obrigue a respondê-lo. Você não...entende.

Eu ouço a porta. Eu vejo a porta. Eu sou um. Sei que sou. Não...Eu não estou. Eu sou. Vocês não são. O que são? Não sei. Mas espera, já disse que sei. O que sou. Não, o que são, não. Vocês me confundem. Tudo me confunde agora. Porta? Que porta? Já não lhe disse que só ouço a porta. Você sabe que finjo ver...Não é justo. Você sempre SOUBE! Tudo bem, me desculpe. Não falo mais assim, é certo. Olhe, eu confesso, eu não vejo. e aliás, eu não sou. Eu sou só esse esboço. E se você quiser verdade, lhe digo. É simples..
Eu sou...o que...você...é.

-Pare! Já lhe disse. Não me importa. E não ouse responder-me!

É possível que passassem alguns dias sem falar-se.
mas era afinal irremediável. Aquele parasita não iria a lugar algum. Ele nascera ali e ali, morreria. Bem ali, na mínima circunferência. No limite. No formato de mamão. E um dia, talvez aprendesse a usá-lo. Porquê não?

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