quinta-feira, agosto 26, 2010

Hoje remexi o passado.
Isso é coisa que não se faz.
Ele morde e sacode, não gosta do que é.
E pega.
A mordida se alastra, alergia.
Espirro mas não sai.
Fica. E dentro, bem dentro.

Chiquititas e Leonardos Dicaprio. Cheiros e gostos. Paredes pintadas de mim.
Caixas cheias de meias verdades.
Ou talvez o que hoje é seja só uma meia mentira.
Não sei.
Nunca soube.
E que eu não descubra.
Amém.
É engraçado, porque a sensação de solidão vem sempre junto com a vontade de nunca estar só.
Mas...
Ontem descobri que na prática não.
Na prática eu já não sei mais estar acompanhada.

Não é engraçado?!

terça-feira, agosto 03, 2010

E você atua, né? atua porquê? Não consegue? Não consegue segurar a onda dessa sua vidinha? E aí faz isso? Abre as portas e disponibiliza o corpo a diversas outras vidinhas, né? O que é? Tá com medo? De ficar maluca? De se fuder nesse jogo de vidinhas?
Qual foi menina, qual que é a tua?
E pensa que eu não sei?
E esses diversos planos aí? Alternativas de fuga?!
Eu já saquei qual é a tua. Gosta dum mundinho imaginário, né? E se não for assim, pra câmera, pra si, pros outros, tu vai criar mais um? De outro jeito? Feitos de linha e despretenciosos pedaços de papel? Faça me rir mais, menina.
Pensas que não sei. Uma P-I-A-D-I-N-H-A. Isso que você é.
Mas não te esquenta. Desse jogo eu sei.
Gente que nem tu, se não consegue, dá um jeito de conseguir.
Nem que seja na dor, no acidente, no desaviso, no sem querer.
Vai, dá teu jeito, te vira.
Ou você cria, ou te deixam ser, ou vais ficar louca. E dá tudo no mesmo. De qualquer forma, é um mundinho imaginário só pra si....Brinca comigo. Quebro esse tijolo no soco.
Te tiro dessa merda de jogo e te jogo na lama. Pra você se lembrar.
Quem é você? De onde você veio? Sai fora que isso não é pro teu bico!
Bom dia menina.
Você atua, é?
Por favor, por favor. Não faça isso, segure sua onda, se mantenha aqui. Não vá.
Olhe para essas linhas! São linhas, vê? É você quem as escreve. Se recorde do seu nome. Lembre-se. Quem é você? Você pode responder essa pergunta. Sabe que pode.
Não, não. Não ouça. Ninguém fala. Só eu.
Você não quer realmente quebrar tudo ao seu redor...Você jamais faria isso!
Continue a sorrir. Continue a sorrir. Continue a sorrir.
Isso.
Cante um mantra. Siga o ritmo. Continue, continue..Veja, está passando.
E isso que fica por dentro, não se incomode...Tem um canto aí para essas coisas. E não há risco. Há canto suficiente para toda uma vida. E o máximo que pode acontecer, é você ficar de repente um pouquinho mais mecânica, apática, normal. Mas isso é ok. Tudo bem ser assim, viu?
Olha lá! Todos são assim. Não há o que temer...NÃO! NÃO QUEBRE ISSO AÍ!!!!!!
Continue a sorrir...Contin...

segunda-feira, julho 26, 2010

Meu blog se trata muito mais de colocar pra fora o que já não cabe mais na alma do que de estar pensando em quantas pessoas vão ler ou deixar de ler o que se escreve aqui.
Vê, é simplesmente inesperado que haja qualquer tipo de reação. Como a tua. Não há o que esperar, só dizer.
E daí?

obs: Não acredito que alguém seja tão bobo a ponto de escrever para ninguém ler. O que se escreve, é para ser lido, o que não é pra ser lido, fica aqui, guardadinho nas nossas lembranças.
Não se diz o que não se quer que ninguém saiba!

=]
Você gosta das verduras frescas. Eu não como verduras. Eu sei e você sabe, mas no final do dia, quando ponho devagar as mãos sobre a fechadura, com leveza e paciência pois me sobram apenas leveza e paciência após esses cinqüenta anos, você estica o pescoço, já num gesto mecânico, de quem nem pensa em fazer, só faz, pra ver que fez, e me olha.
Me olha pra sorrir. E aí sorri.
Você diz: Estou preparando rúcula.
Eu posso assentir, ainda que, como eu disse. Você sabe e eu sei.
Ou, posso ignorar, pra depois subir lentamente os degraus até aquele espaço pequeno que era tão nosso. Vai depender de como foi o dia. Lá dentro, tudo que sempre foi, do jeito como sempre foi. E não importa que as cores não sejam as mesmas e que você não mais as consiga ver, por que eu já cheguei. E depois de tanto tempo, chegar já é o suficiente.
Nós não temos mais espelhos na casa. Foi assim que combinamos. Eu sou só o que você vê, e você é tudo que eu vejo. Basta isso. Só isso. E eu comeria rúcula pelo resto dos meus dias.



Por onde perdi?
A pergunta me segue, mas já não me recordo o que perdi, se perdi, ou a caminho de quê.
O que é?
Essa coisa que espeta, incomoda, entra fundo na alma, só pra me derramar fora. Mas eu não quero ir. Eu quero mais é ficar. Me deixem com as minhas coisinhas. Em paz. Em desespero. Desde que fique, desde que seja, desde que sou.
Só quero roer esse osso que resta, de tudo que era pra ter sido, agonizar em silêncio. Levantar e sorrir.
Tão criança, gargalhar. Tão, mas tão.
Colo. Isso... pegue, pegue no colo. Shhhh...Shhh... Não importa, é um bebê.
Bebê? Pára, não é isso que é.
Drama. Você diz drama e nada parece mais ser. Me aquieto. Escondo os olhos. Criatura acuada, quando reparo já estou. Arranho a parede. Arranco fora e guardo no armário. Se pensas isso, como posso lhe deixar ver?
E roda roda roda. Néctar escorrendo pelo corpo. Continua rodando. É pra cima que olha. Não há buraco. Só espelho. Mas espelho também é buraco e de repente, podia ser, podia ser. A idéia se acende. Apaga. Desiste. Se esconde no piso. Derrete. Não existe mais, não existe, não existe. Acredita, e porquê acredita, some.
Gosta. Sente o gosto vivo do poder de si que tem.
A rainha de todos eles.
“Uma ode a mim”. Brindo o cigarro.
Dorme e acorda assim.
É sina, maldição, destino.
Eu rio do destino porque a maldição e a sina me parecem tão mais ainda que eu.
E não são, não são.
Só eu, só. Só. Só.
E parar pra no meio do caminho pontuar os pontos. E não quero mais pontos, nem nada.
Os pontos soam tão. Não, nada de pontos. Sacudo os pontos do colo. Quem é que precisa disso afinal? O fim não é o que parece. Nada termina como deve começar. Essas coisas sempre juntas pelo final das outras...
O meio. Me restrinjo ao meio. O meio é a melhor parte. No meio o olho brilha. O meio é como redenção. Ah, sim. Isso sim. E em seguida constatar: Meu Deus. Me roubaram o meio. E pimba, lá se foi a luz. Lá se foi o ar.
Estava ali, onde foi parar? Rodo, rodo, rodo. Já não posso parar. Não há meio que me satisfaça. Respire, respire. O duplo osso da vida é função. Quando se chega, vai-se.
O que é? O que é? Essa coisa que espeta, incomoda, entra fundo na alma, só pra me derramar fora.

quinta-feira, julho 15, 2010

- Mas eu não compreendo...O que estão eles a fazer?
Todos esses lugares, bocas se estreitando para depois se alargar, alardeando um som alto e estridente...E porque não posso falar com você? Preciso entender! Me assusta... Mas ao mesmo tempo é como uma pequena hesitação inflada de curiosidade. Ela se move e você, extasiado pela beleza, se aproxima, apesar de não entender se há perigo ou não naquela pequenina criatura colorida. É assim. Não consigo explicar. Esse espaço que há, boca, e que se estreita e alarga, num movimento contínuo e sonoro...é como....é como um convite....
- Isso é o que chamamos de sorriso...
-So....rri...zzzzzo.
-é...haha, sorriso. Você é engraçado, sabe?
-Engraçado, eu sou engraçado...espera! (com alguma dificuldade, estreita os lábios para depois alargá-los ao máximo, no que agora sabia chamar-se sorriso.) Em seguida, emite o som mais esquisito que pode. fecha-se. acabou. Olha para o outro.

- o que você acha?
- Bem, é preciso treinar essa coisa.
- O que é coisa?

-Nesse caso? Bem, nesse caso a coisa é felicidade. Não é tão fácil assim parecer genuinamente feliz.

- Ah...é como um jogo? Você parece uma coisa...que não é? Há um jeito certo para ..para...so...rrrriiii...zzzzzo?

- Na verdade...........Você me confunde, sabia? Escuta, você precisava mesmo cair aqui, bem aqui, no meu limite? Nessa mínima circunferência, formato de mamão, com alguns galos da infância e muita confusão? Eu não posso te ajudar. Já lhe disse, é preciso que se entenda que não é tudo feito pra ser entendido. Apenas se faz, e ponto. É perigoso não fazer. Você não entende. Existem regras. Não se pode subjulgá-los. São todos loucos.

Os olhos brilhavam enquanto escondia rapidamente todas as borboleta armário adentro. Das paredes arrancava a cor, embrulhava em minúsculas bolinhas de tinta que escondia sob a língua e aqueles fios, tão interessantes, os fios...uma pena! Uma pena! que libertavam barulhos poderosos que acalmavam e fervilhavam o estômago foram postos atrás das paredes.

- Porque tudo isso? O que está acontecendo?

- Olha, é a última vez que lhe peço essa semana. Já faz alguns anos que lhe sei aí. Você não pode mais ficar. Por favor, não more em mim. Por favor, eu lhe imploro. Leve o tempo que quiser, mas vá. E o mais importante: Não fale comigo. Custe o que custar, quando eu sair por esta porta, não me obrigue a respondê-lo. Você não...entende.

Eu ouço a porta. Eu vejo a porta. Eu sou um. Sei que sou. Não...Eu não estou. Eu sou. Vocês não são. O que são? Não sei. Mas espera, já disse que sei. O que sou. Não, o que são, não. Vocês me confundem. Tudo me confunde agora. Porta? Que porta? Já não lhe disse que só ouço a porta. Você sabe que finjo ver...Não é justo. Você sempre SOUBE! Tudo bem, me desculpe. Não falo mais assim, é certo. Olhe, eu confesso, eu não vejo. e aliás, eu não sou. Eu sou só esse esboço. E se você quiser verdade, lhe digo. É simples..
Eu sou...o que...você...é.

-Pare! Já lhe disse. Não me importa. E não ouse responder-me!

É possível que passassem alguns dias sem falar-se.
mas era afinal irremediável. Aquele parasita não iria a lugar algum. Ele nascera ali e ali, morreria. Bem ali, na mínima circunferência. No limite. No formato de mamão. E um dia, talvez aprendesse a usá-lo. Porquê não?
E eu fico aqui, com este tipo chato de amargura atada ao redor dos pés e mãos, a observar como as pessoas vão e voltam sem que eu sequer me mova.
E observo, observo. Já não há reação. Só um vazio no olhar vazio que desde o sempre - que nasceu agora - mora aqui, neste recôndito espaço, não menos vazio mas cada vez mais estreito e escuro.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Uma noite qualquer de um janeiro qualquer

Pernas pro ar naquela mesma sala de antes de mim.
O ventilador fazia a trilha da noite, dizendo todos aqueles ruídos comuns a um ventilador daquele tipo e se sobrepondo ao som da conversa que nem existia. O calor entrava pela janela, invadia nossa roupa e escorria pescoço abaixo.
A respiração lenta, lenta. Só pra não ter que botar pra dentro todo aquele ar quente.
Ela estava ali, de frente pra mim, naquele também mesmo sofá, testa franzida. Nos olhos, a mesma preocupação que eu observei em mim.
Falei qualquer coisa idiota capaz de dissipar aquele olhar no nosso ambiente.
Ganhei de volta um sorriso seco, rápido, triste e frio, tão frio que eu ri, de pensar em como toda aquela quentura podia deixar que um sorriso tão frio furasse a atmosfera tão janeirense ao nosso redor.
E percebi; Do jeito como a quero confortável, ela me quer confortável, apesar daquilo não estar funcionando pra nenhuma de nós duas.
Eu não podia parar, precisava continuar falando. E disse mesmo. Disse tudo o que eu sabia dizer sobre a coisa que melhor sei. Sonhos. Com algum esforço, enchi os olhos daquela substância incrível que os faz brilhar e olhando-a nos olhos a deixei saber de tudo quanto eu pretendia pra nós.
De como eu nos tiraria daquele lugar, de tudo que faríamos no outro lugar ainda sem nome pra onde eu nos levaria e de quão fantástica seria nossas vidas.
Após o esforço do parto difícil dessa história que ameaçava de fato nem ser, larguei os ombros pra caírem no sofá, visivelmente cansada.
Quando retomei o olhar, ela me sorriu. Dessa vez um riso real, que de tão palpável, terno. Foi com a respiração ainda ofegante que sorri de volta, sabendo que por hora, aquilo era tudo que precisávamos para sobreviver até o próximo dia.
O tão esperado dia seguinte. Que talvez não fosse tão quente. Que talvez, não fosse tão seco ou triste.
Ando fazendo uma coisa bem específica com uma certa frequência. Desvendo pessoas. E a medida que o faço, as des-vejo. Deixar de ver como se elas deixassem de existir.
Fico procurando uma coisa qualquer que diferencie uma pessoa de todo mundo. Mas a gente toda anda bem parecida. Até os diferentes são iguais entre si. Não sei se me faço entender, mas de qualquer forma não pretendo seguir me explicitando. O segredo de estar bem; descobri - É o susto de tudo que vem inesperado. E o que vem pode ser qualquer coisa. Estou aberta, disponível e fiel a todo tipo de constatação que se proponha a me atravessar esse ano. Só peço que seja cabível de desconstatação. Digo não á eternidade. Esse ano, só o perecível me atrai.

Construção é igual a descontrução, só que basicamente para lados opostos.

Tudo que constrói, destrói.
Tudo que se destrói, abre espaço para uma nova construção.

Dica: Construir, desconstruir. Ver o resultado.