segunda-feira, julho 26, 2010

Você gosta das verduras frescas. Eu não como verduras. Eu sei e você sabe, mas no final do dia, quando ponho devagar as mãos sobre a fechadura, com leveza e paciência pois me sobram apenas leveza e paciência após esses cinqüenta anos, você estica o pescoço, já num gesto mecânico, de quem nem pensa em fazer, só faz, pra ver que fez, e me olha.
Me olha pra sorrir. E aí sorri.
Você diz: Estou preparando rúcula.
Eu posso assentir, ainda que, como eu disse. Você sabe e eu sei.
Ou, posso ignorar, pra depois subir lentamente os degraus até aquele espaço pequeno que era tão nosso. Vai depender de como foi o dia. Lá dentro, tudo que sempre foi, do jeito como sempre foi. E não importa que as cores não sejam as mesmas e que você não mais as consiga ver, por que eu já cheguei. E depois de tanto tempo, chegar já é o suficiente.
Nós não temos mais espelhos na casa. Foi assim que combinamos. Eu sou só o que você vê, e você é tudo que eu vejo. Basta isso. Só isso. E eu comeria rúcula pelo resto dos meus dias.

Um comentário:

E daí? disse...

O blog é uma coisa interessante, nem sempre os "0 comentários" de um post significam que ninguem está lendo o que escrevemos, mas mesmo assim as vezes parece que estamos muitas das vezes escrevendo para nós mesmos, não é verdade? O pior é que na maioria das vezes estamos realmente escrevendo para nós mesmos, mas deixamos que alguma pessoas tomem conhecimento =] será que meu comentario rende outro comentário?
edai@globomail.com