domingo, julho 31, 2011

É sempre manhã e sempre "bom dia" pros padeiros que buzinam em minha rua com pão e corpos amornados pelo sol no pequeno bairro de Serra Grande.
Com os olhos ainda amolecidos e úmidos da noite sem sono, percebo o passar dos padeiros e não consigo dizer uma palavra sequer sobre a peregrinação matinal desses homens sempre felizes e sorridentes que enfeitam as manhãs invernais de minha varanda.

E eu só não digo nada porque nunca falo a essa hora, mas se alguma coisa saísse, cara, se eu pudesse dizer qualquer coisa que fosse, seria mais ou menos assim:

"- porra, cara, eu ainda não sei, mas se eu continuar mais uns dias sem saber, quero ser mesmo é como tu"

Aquela altura de minha vida, com 23 anos recém completos, já era fácil identificar burburinhos estigmáticos ao redor das festas familiares a respeito dos rumos e prumos pra minha vida desregrada e incomum. Eles tinham uns nomes esquisitos pro que eu chamava de lapso criativo.

Eu não sei se o que rareou foram os lapsos ou a paciência pra toda essa gente inútil em volta de mim. Só sei que de tanto gastar palavras pra explicar o que não se vê, fui ouvindo mais, calando mesmo. Guardando sorrisos e dispensando furadas.

Errado por errado, certo por certo, eu continuo no maravilhoso equilíbrio entre pequenos e longos surtos.
No meio disso tudo, as vezes, ainda encontro alguns padeiros sorridentes, a quem grunho meia dúzia de palavras incompreensíveis, mas que se fossem compreensíveis, seriam mais ou menos assim:
"filho da puta sorridente, vai vender pão na porra do deserto que o parta, como eu queria ser você, só por esse minuto feliz, entre o raiar da manhã e essa sombra distante dos coqueiros reluzentes que emolduram o bairro empoeirado dessa pequena cidade em que vivo, pro diabo com toda essa luz! E bom dia pra você também, seu padeiro"
Amém.

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